Vídeo histórico narra atuação comunista em 1945
15 de Abril de 2009 - 17h05
Comemorando os 87 anos de fundação e de luta do mais antigo
partido em atividade no Brasil, o PCdoB, o Partido Vivo publica a seguir
documentário produzido pelo cineasta Ruy Santos em 1945, durante evento no
estádio do Pacaembu, em São Paulo, quando mais de 100 mil pessoas se reuniram
para ouvir o líder comunista Luis Carlos Prestes. A apresentação do vídeo, no
artigo a seguir, ficou a cargo do historiador e membro do Comitê Central do
PCdoB, Augusto Buonicore.
Depois de uma grande pressão popular, em abril de 1945,
Getúlio Vargas decretou a anistia aos presos políticos. Centenas de comunistas,
finalmente, puderam deixar o exílio e os cárceres do Estado Novo. Entre os
libertados estava o legendário Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança.
O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) estava no auge do seu
prestígio. Afinal, havia sido a União Soviética a responsável pela derrota do
principal inimigo da humanidade: a Alemanha nazista. Em cada país, inclusive no
Brasil, haviam sido os comunistas os que mais se empenharam na derrota do
fascismo e na conquista da democracia.
Foi neste mesmo ano, em 15 de julho, que uma multidão de
mais de 100 mil pessoas lotou o estádio do Pacaembu para ouvir as palavras de
Prestes e dos comunistas brasileiros. Em honra ao evento, o poeta Pablo Neruda
escreveu e recitou para o público o poema “Mensagem”, posteriormente publicado
no seu livro “Canto Geral”:
Vou dizer-lhe que não guardas ódio.
Que só desejas que a tua pátria viva.
E que a liberdade cresça no fundo do Brasil como árvore
eterna.
Eu quisera contar-te, Brasil, muitas coisas caladas,
carregadas por estes anos entre a pele e a alma,
sangue, dores, triunfos, o que devem se dizer
o poeta e o povo: fica para outra vez, um dia.
Peço hoje um grande silêncio de vulcões e rios.
Um grande silêncio peço de terras e varões.
Peço silêncio à América da neve ao pampa.
Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo.
Silêncio: que o Brasil falará por sua boca.
Esta, sem dúvida, foi uma das maiores manifestações de apoio
a um líder político nacional. O mesmo fenômeno havia acontecido no Rio de
Janeiro alguns dias antes. Ali os comunistas conseguiram encher o estádio do
Vasco da Gama.
A grande novidade esteve no fato que o comício de São Paulo
foi documentado por um diretor de cinema bastante competente chamado Ruy
Santos. À pedido do Comitê Nacional do Partido filmou os primeiros momentos da
atuação pública dos comunistas brasileiros. Sem ter consciência disso, nos
legou as únicas imagens em movimento da atividade comunista naqueles anos. Por
isso, o filme “Comício São Paulo a Luís Carlos Prestes” é hoje um verdadeiro
documento histórico.
Um destaque especial merece a belíssima fotografia feita
pelo próprio Ruy e a narração de Amarílio de Vasconcelos, um dos
reorganizadores do Partido em 1943. O cineasta ainda dirigiu “24 anos de luta”,
narrando a história do Partido Comunista do Brasil. O documentário, que tinha o
roteiro escrito por Astrojido Pereira, fundador do PCB, hoje se encontra
desaparecido.
Muitas décadas depois, o próprio diretor afirmou ao
jornalista Vladimir Sacchetta que o original do filme foi entregue para análise
da censura na época do general-presidente Eurico Gaspar Dutra e nunca mais foi
devolvido aos seus verdadeiros donos. Mais um desserviço que a repressão
política prestou a história política e social brasileira.
Extraído de Vermelho
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