quinta-feira, 16 de junho de 2011

De controvérsias e conflitos

Prezados/as Companheiros/as,

Li com atenção as anotações contrárias ao Fórum Municipal de Religiosidade Afro Brasileira do PCdB Rio e confesso que fiquei meio apreensivo!

Do modo como discorreram as anotações, vi que se instala nesse “Assunto: Convite Seminário” e, em especial, no tema “Fórum Municipal da Religiosidade Afro-Brasileira do PCdoB-RIO”, um conflito. Com certeza é do conhecimento de todos/as que os conflitos existem desde sempre!

Ocorre que o tema em questão se faz necessário não por uma questão de “conflito”, mas por uma condição que, de tão especial, nem chega a possibilitar conflito: a exclusão; exclusão histórica e milenar sobre a população negra e sobre tudo (ou quase tudo) que advém das culturas do continente africano.

Quando um/uma – qualquer um e qualquer uma – pessoa, agremiação, empresa, partido político busca “agregar lideranças religiosas de todo o Rio de Janeiro e organizações nacionais que lidam com o tema para a discussão de grandes agendas”, entendemos que esta é “a” atitude que sempre buscamos; é “a” atitude que sempre entendemos como caminho para a superação do racismo e da exclusão permanente e sistemática sobre nossos seres e fazeres, pois temos aprendido que a questão racial (e tudo dela emana) não é uma questão da população da negra ou do povo de santo, mas uma questão de toda a sociedade, de todas as pessoas, de todas as organizações.

O diálogo é fundamental para a articulação, o desenvolvimento e o crescimento de qualquer sistema, incluindo o social, o político, o organizacional. Entendo que é possível e necessário que se estabeleçam várias e inúmeras frentes de ação e articulação como formas plurais - e apoiadoras, umas das outras – de se galgar passos e trilhas na caminhada da superação do que nos oprime. Digo formas plurais, inclusive, porque já se sabe de há muito que “a unanimidade é burra” e não gera processo.

Já temos tido opressão demais ao longo dos tempos e não precisamos de uma opressão de nós para nós mesmos. Já temos sido alvo de desconfiança permanente e não precisamos que nós mesmos desconfiemos de nós.

Constatei conflito nas anotações precedentes e sei – assim como cada um/a - que é possível pensar inúmeras (inúmeras) alternativas para lidar com os conflitos. Aqui, nessa resposta, me coloco na posição de não ignorá-lo (ignorar seria uma das alternativas); mas de colocar pontos que possam cooperar para saná-lo (tornar são, sadio; tornar produtivo; que permita avançar) e transformá-lo em elemento auxiliar do processo.

Com certeza conflitos existem quando se tem estratégias diferentes que, em muitos casos, passam por diferentes níveis de informações e de percepções do que se pode propor.

Já temos despendido tempo demais de nossas vidas tendo que nos explicar, desde o porteiro do prédio, ao gerente do banco, passando pelo segurança da porta rotativa...

E exatamente como o provérbio iorubá, nós “queremos chegar longe” porque queremos agregar lideranças religiosas DE TODO O RIO DE JANEIRO e ORGANIZAÇÕES NACIONAIS que lidam... Estamos nessa trajetória porque queremos e precisamos chegar a uma solução (um remédio) que possibilite a superação de toda exclusão, pois aprendemos com Steve Biko que “A pessoa precisa entender os fundamentos antes de propor o remédio. Várias organizações que lutam atualmente contra o ‘apartheid’ estão trabalhando em uma premissa simplificada demais. Eles deram uma rápida olhada no que é a questão e diagnosticaram o problema incorretamente. Eles têm esquecido, quase completamente, os efeitos colaterais e não têm considerado a causa de raiz. Conseqüentemente tudo o que é improvisado como um remédio dificilmente curará o problema.” (“We Blacks, I Write What I Like, 1978.”)

Meus respeitos a todos/as.

Giancarlo Gonçalves
Coordenador do Fórum

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